Em 2007, a cidade do Rio de Janeiro organizou os jogos pan-americanos mais caros da história. Embora as sucessivas auditorias que foram realizadas desde então, ainda não tenham sido capazes de determinar com certeza quanto do dinheiro público foi gasto na sangria, seguramente já é possível afirmar que o pan 2007 foi mais dispendioso do que os jogos olímpicos de Londres em 2012, por exemplo.
Para justificar a farra bilionária, o COB e as autoridades estaduais e municipais alegaram insistentemente que as obras eram caras pois estavam sendo construídas já atendendo as exigências do COI, preparando a cidade para receber os jogos olímpicos futuramente, dotando-a de uma infra-estrutura esportiva completa, ou seja, gastou-se naquela época para economizar no futuro.
Recentemente, acompanhando as notícias sobre as olimpíadas de 2016 pela grande mídia, vi duas notícias que atraíram minha atenção: O velódromo construído para o pan será demolido e, em seu lugar, erguido um novo e o Parque Aquático Maria Lenk será usado, apenas, na competição de polo aquático, sendo que serão construídas ou adaptadas outras instalações para receber as demais modalidades de esportes aquáticos. Para justificar a mudança, o monarca do COB, Carlos Arthur Nuzman disse que as "fotos dos saltos ornamentais ficaram maravilhosas" no novo local.
Ora, somando o que se gastou para erguer o velódromo e o Maria Lenk chegamos a expressiva soma de cerca de 150 milhões de reais, verba que seria o suficiente para construir, equipar e manter por um ano 10 hospitais públicos com mais 60 leitos cada, acabando com desumano espetáculo das filas quilométricas nos postos de saúde ou com a vergonhosa espera de anos por atendimento em centros de referência.
150 milhões de reais é dinheiro suficiente para construir e mobiliar mais ou menos 25 escolas com dez salas de aula climatizadas, resolvendo assim os problemas de superlotação existente no estado onde, frequentemente, 50 crianças são espremidas em salas de aula com capacidade para metade disso.
150 milhões de Reais é dinheiro suficiente para iniciar e consolidar uma política ambulatorial e de amparo para recolher e tratar adequadamente dependentes químicos (os cracudos), resolvendo um grave problema social e médico, ao invés de se utilizar medidas truculentas e fascistas que além de não resolver, somente agravarão o problema a médio prazo.
150 milhões de reais trazem dignidade a muita gente mas, ao invés disso, eles foram simplesmente jogados no lixo. Por que? por causa de nossa infalível capacidade de escolher sempre o que existe de pior, de mais podre, de mais execrável na raça humana para conduzir a coisa pública, ou seja, os Nuzman, os Ricardos Teixeiras, os Calheiros, os Sarneys, os Eduardos Paes e os Sérgios Cabrais da vida, Ratos imundos, ladrões, corruptos e incopetentes da pior espécie.
Fábio Campelo é historiador.