sábado, 17 de agosto de 2013

Carta aberta sobre a greve dos professores do estado

Aos meus amigos e amigas das redes estadual e municipal do Rio de Janeiro. Saudações!
Hoje, mais uma vez, nossa categoria se mobilizou para se levantar contra os desmandos e descalabros da política educacional em nosso estado e, mas uma vez, a resposta do governo e de seus capangas é a violência, seja ela física (as agressões promovidas pela PM - sempre ela - contra professores em movimentos pacíficos), moral (telefonemas ameaçadores que acenam com a ridícula possibilidade de exoneração de servidores públicos contratados) ou econômica (a ameaça COVARDE de corte de ponto) e, mais uma vez, temos a categoria dividida entre aqueles que aceitam a responsabilidade de lutar por uma política educacional justa e correta e aqueles que se acovardam e continuam abaixando a cabeça para os absurdos verticalmente impostos.
Amigos, vivemos um momento ímpar nas últimas 3 décadas, vivemos um momento em que, pela primeira vez em muito tempo, os poderosos estão acuados e a população nos apoia em nossa luta, vivemos um momento em que podemos, finalmente, nos fazer ouvir e impor nossa vontade sobres os canalhas que diariamente nos oprimem e nos violentam.
Porém, para isso, é preciso lutar!
Não se deixem intimidar pela brutalidade dos poderosos, não se deixem iludir pelas MENTIRAS da grande mídia, não nos deixemos acovardar pela pequenez mesquinha dos "Bônus para os puxa sacos" e "vales coxinhas" com os quais tentam nos calar, unamo-nos ao invés de nos dividir.
VAMOS PARA A RUA! chega de meritocracia! chega de economistas e administradores dizendo o que é melhor para a educação! chega de sermos humilhados e violentados em silêncio! BASTA!

Obrigado pela atenção. Um grande abraço
FÁBIO CAMPELO TEIXEIRA
Professor do estado, C.E. Honório Lima.

Carta aberta sobre a greve dos professores do estado

Aos meus amigos e amigas das redes estadual e municipal do Rio de Janeiro. Saudações!
Hoje, mais uma vez, nossa categoria se mobilizou para se levantar contra os desmandos e descalabros da política educacional em nosso estado e, mas uma vez, a resposta do governo e de seus capangas é a violência, seja ela física (as agressões promovidas pela PM - sempre ela - contra professores em movimentos pacíficos), moral (telefonemas ameaçadores que acenam com a ridícula possibilidade de exoneração de servidores públicos contratados) ou econômica (a ameaça COVARDE de corte de ponto) e, mais uma vez, temos a categoria dividida entre aqueles que aceitam a responsabilidade de lutar por uma política educacional justa e correta e aqueles que se acovardam e continuam abaixando a cabeça para os absurdos verticalmente impostos.
Amigos, vivemos um momento ímpar nas últimas 3 décadas, vivemos um momento em que, pela primeira vez em muito tempo, os poderosos estão acuados e a população nos apoia em nossa luta, vivemos um momento em que podemos, finalmente, nos fazer ouvir e impor nossa vontade sobres os canalhas que diariamente nos oprimem e nos violentam.
Porém, para isso, é preciso lutar!
Não se deixem intimidar pela brutalidade dos poderosos, não se deixem iludir pelas MENTIRAS da grande mídia, não nos deixemos acovardar pela pequenez mesquinha dos "Bônus para os puxa sacos" e "vales coxinhas" com os quais tentam nos calar, unamo-nos ao invés de nos dividir.
VAMOS PARA A RUA! chega de meritocracia! chega de economistas e administradores dizendo o que é melhor para a educação! chega de sermos humilhados e violentados em silêncio! BASTA!

Obrigado pela atenção. Um grande abraço
FÁBIO CAMPELO TEIXEIRA
Professor do estado, C.E. Honório Lima.

domingo, 23 de junho de 2013

PARTIDARISMO, APARTIDARISMO E AUTORITARISMO

Por: Fábio Campelo Teixeira.

Em 19/06, postei um pequeno comentário a respeito do repúdio das manifestações atuais aos partidos políticos. Reproduzo esse comentário para melhor desenvolver minha argumentação:

"Por que as manifestações atuais tem um caráter tão intransigentemente apartidário? Porque a muitos anos os partidos de esquerda não representam mais os ideais e a vontade popular que tão ruidosamente dizem defender.
PSTU, PCO, PCdoB a anos deixaram as causas e agendas sociais de lado e se concentram em uma espécie de jogo de poder pessoal no qual disputam com unhas e dentes o controle sobre sindicatos e dce's universitários os quais aparelham e utilizam como base de apoio de seus projetos pessoais de poder. Assim como as legendas de direita que dizem combater, esses partidos colocam em primeiro lugar suas próprias agendas e desconsideram por completo os interesses daqueles excluídos que dizem defender.
Repetir os mesmos e manjados refrões de 50 anos atrás não vai garantir a esses oportunistas a liderança dos presentes movimentos alias, nem mesmo um lugar neles" - Rio de Janeiro, 19/06/2013.

Continuo acreditando que a culpa do atual sentimento antipartidário recai sobre os próprios partidos porém, assim como a muitos, me causa uma certa preocupação os ataques violentos que os militantes desses partidos tem sido vítimas ao tentarem participar das manifestações que proliferam pelo país.
A ausência de partidos políticos e representações de classe abrem caminho para o surgimento de regimes autocráticos e ditaduras que, via de regra, podem até atender aos anseios de alguns segmentos da população mas o fazem reprimindo violentamente todos os demais segmentos ou grupos que, porventura, venham a manifestar visões de mundo diferentes. Os partidos impedem a excessiva concentração de poderes nas mãos de um só grupo, permitindo a existência de uma pluralidade de discursos conflitantes que, de outra forma, é impossível.
Nesse sentido, acredito que impingir aos movimentos atuais esse caráter violentamente apartidário é um grave erro do qual podemos nos arrepender amargamente nos anos que virão. O grito não deve, não pode, ser contra a existência de partidos e organizações de classe mas sim pela REFUNDAÇÃO desses instrumentos democráticos (oportunidade essa que o próprio PT perdeu ao defender os réus condenados pelo mensalão), devemos nos manifestar pelo fim dos antigos e obtusos coronéis que ainda imperam de forma absoluta em legendas que variam do fisiocratismo ao personalismo, voltadas apenas para os próprios interesses mesquinhos, devemos nos manifestar contra o "sou contra por ser contra", contra o aparelhamento de associações de base por partidos que, de outra forma, não conseguem representatividade alguma.
Vejo também um certo exagero nos discursos que vicejam nas redes nos últimos dias que denunciam a existência de algum tipo de conspiração nazi-direitista no sentido de destruir os partidos de esquerda. Ora, são exatamente os políticos de direita os principias alvos de muitas manifestações! Há por trás desse tipo de teoria da conspiração um certo pânico das lideranças de esquerda pelo fato de, pela primeira vez na história recente, haver uma manifestação em massa da população sem que eles estejam a frente. Nesse sentido concordo com meu amigo Thiago Monteiro Bernardo quando este diz que não há motivo para o medo e que, ao invés de hostilizar o movimento, é o momento de ser humilde e ouvi o recado que vem das ruas, aprender com ele e mostrar para os revoltados a importância da existência de  partidos para a democracia.
Vamos as ruas, TODOS NÓS, sem sectarismos nem radicalismos idiotas que apenas atendem aos interesses daqueles contra quem o povo finalmente se insurgiu.

Fábio Campelo é historiador.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Reflexões sobre fazer política em meio a crise

Por: Thiago Monteiro Bernardo.


Não preciso afirmar que o momento é histórico. Ontem, dia 20 de junho de 2013, assistimos as maiores manifestações populares desde a redemocratização do Brasil há 25 anos. O que querem estes manifestantes? Muitos já tentaram responder. Ontem na marcha tive a clareza que a pauta era apenas uma: a indignação. Eram diversos grupos indignados com as mais diferentes causas. Havia alas de movimentos que em sua maioria marchavam e desfilavam em harmonia, saindo da Igreja da Candelária em direção a prefeitura do Rio de Janeiro. Passei pelo movimento LGBT, pelos sem teto, por punks anarquistas, por sindicatos, por partidos de esquerda. No trajeto soube que figuras de extrema direita, ainda que em minoria absoluta, também estavam presentes, mas não os vi. Eles não davam a cara do movimento que era composto em sua maioria por jovens (e não jovens adultos como eu) que nunca bradaram contra governos, nunca enfrentaram a polícia e que viviam o encantamento e o assombro de estar tomando de algum modo o controle de suas vidas políticas naquele ato. O fluxo deste enorme rio não era do golpe. Era o de buscar algum tipo novo de cidadania, uma nova política com mais transparência e maior canal de participação popular.
Traçado este perfil, chego ao meu ponto principal: espalhasse na rede principalmente entre os militantes de esquerda o terror que este movimento descambe para um golpismo. Vejo colegas militantes (a maioria deles como eu na casa dos 30 anos e com uma trajetória intelectual e de lutas razoavelmente longa) temendo que a marcha se torne uma nova TFP. Pessoas horrorizadas com o mote nacionalista dos manifestantes que gritavam “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”. Para eles eu digo: não temam! Vamos a luta!
Os gritos nacionalistas foi a forma como essa geração aprendeu o que era cidadania. Fiz uma reflexão sobre isso junto com alguns amigos e constatei inclusive que o hino nacional se tornou a única música que fornece algum tipo de coesão coletiva aprendida por que essa juventude, seja nas escolas, seja nos eventos esportivos. O vazio é tão grande que as canções de protesto evocadas eram as de outra juventude. Chico Buarque e Geraldo Vandre ainda são os hinos de resistência. Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor é a chave semântica que se canta nos estádios para clamar pela superação quando algum time nacional está em dificuldades. Se isto for apropriado pela extrema direita militarista ou pelos fascistas será por que n´s deixamos ser. 
Sem dúvida as manifestações evidenciam uma crise política. Os governos (mesmo os de esquerda) e os políticos não sabem como se posicionar. Era evidente a ausência deles desde o início do movimento. Os gritos sem bandeira e sem partido, que muitos viram como fascista eram na verdade de uma multidão que se cansou. Cansou de acreditar na velha política que os partidos representam e querem de algum modo algo novo, ainda que não tenham clareza de qual projeto político representaria essa novidade. Esta crise abriu um vazio político. Um vácuo ideológico. Um vazio que será preenchido no curso destas manifestações.
O PSTU, o PSOL, o PCO e demais partidos não devem atacar os manifestantes que exigem que suas bandeiras sejam abaixadas. A ação tem que ser pedagógica. Não estaria ali a chance de apresentar o que é UM partido? O que é O partido? Quais são as propostas DESTES partidos para resolver a atual crise? Como eles pretendem incorporar ou dialogar com a agenda de indignações do movimento atual? Não fazer isto é dar munição para os que gritam sem partido. Ou ainda pior, dar munições para os que gritam sem partido de modo ideológico, conclamando para uma ditadura militar.
A rua é agora o espaço de disputa política e a disputa é pedagógica. Será dali que sairão os grandes vencedores e derrotados deste momento. A multidão é disforme e poderosa mas não devem ser temida por qualquer um que tenha um projeto de sociedade ou de política, como são os partidos. Espero ver todos os colegas partidários e intelectuais juntos, construindo propostas na próxima manifestação. Temer o povo ou mesmo suas posturas mais reacionárias é a derrota para qualquer movimento que pretenda transformar esta sociedade. Façamos novas canções, que possam ser cantadas em conjunto com as mais antigas. Lancemos novas ideias pois a paciência de esperar por mais 4 anos e ver mudanças apenas superficiais já se esgotou.

Thiago Monteiro Bernardo é Historiador e ex-professor da UFRJ.

Sobre Protestos, Surdez seletiva e Violência

Por Fábio Campelo Teixeira.

Com o presente texto, não pretendo fazer nenhum tipo de pregação nem contra nem a favor dos atos de violência que tem crescido de forma exponencial nas manifestações populares que se espalham pelo Brasil, minha proposta é pura e simplesmente fazer uma reflexão a respeito das origens dessa violência, para compreendermos por que ela ocorre.
Um primeiro aspecto que me chamou atenção foi exatamente os locais onde os atos de violência tem sido mais comuns e virulentos, ou seja, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Me parece claro que a violência das manifestações nessas duas cidades está diretamente relacionada com a forma brutal com que as elites dessas cidades (e estados) tem, historicamente, lidado com a população.
O governador do Rio de Janeiro e seu prefeito-fantoche da capital tem pautado suas administrações pelo trinômio leniência (para com os poderosos), violência (no trato com a população carente) e intransigência (ante os apelos da sociedade civil organizada). Para comprovar isso cito dois casos exemplares: a remoção de comunidades pobres e grupos excluídos para a realização das obras para a Copa do Mundo e as Olimpíadas são de uma brutalidade animalesca que poucas vezes eu vi na história recente da humanidade (é, por isso mesmo, ocultadas do grande público com o apoio da grande mídia subserviente) e a reação do governo do estado do Rio de Janeiro as legítimas mobilizações populares que vem acontecendo ao longo dos últimos 3 anos (Cabral prendeu os bombeiros grevistas, ameaçou com exonerações em massa a PM quando esta ameaçou entrar em greve e vem humilhando e assediando os professores do estado desde a última greve que durou 3 meses). Ambos demonstram claramente o viés antidemocrático, impiedoso e violento do exercício do poder no estado do Rio de Janeiro e, diante de tal situação, me parece natural que a revolta popular exploda durante as manifestações pois criou-se um sentimento que os violentos apenas ouvirão a voz da violência. Boa parte do que eu falei sobre o Rio de Janeiro é perfeitamente aplicável ao estado de São Paulo no qual, em pouco mais de 16 anos non poder, o PSDB implementou um Estado policial como poucas vezes se viu na história mundial.
Segundo. Dependendo da fonte que se consulte as versões sobre o início da violência vão variar de "os baderneiros provocaram a polícia" a "a polícia saiu atirando sem provocação". Sem entrar nos méritos sobre qual versão é mais ou menos plausível acredito que a grande questão aqui é a mesma: independente de quem começou a arruaça, a atuação da Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro foi altamente reprovável.
Em entrevista ontem a noite, o professor da UFRJ Francisco Carlos fez uma análise impecável sobre o que ocorreu no centro do Rio de Janeiro na noite ontem ao afirmar que "o vândalo não tem preparo nenhum, ele quer simplesmente incitar a violência, mas o policial (em tese) recebe treinamento e preparo para lidar com esse tipo de situação". Permitam-me recorrer a um exemplo para deixar esse raciocínio mais claro: A polícia reagir com violência a provocação dos Vândalos é uma situação análoga a um professor que, ao ser ofendido por um aluno em sala de aula, pegar um pedaço de pau e espancá-lo até que o aluno desmaie.
Em um estado democrático de direito, SOB HIPÓTESE ALGUMA é admissível que uma força policial treinada e fortemente armada abra fogo (e, diga-se de passagem, com munição letal e não apenas balas de borracha) contra uma população civil desarmada e mobilizada e, quando essa mesma polícia começa a atirar bombas de gás contra um hospital, temos formado um quadro de terrorismo estatal digno dos pesadelos totalitários descritos por autores como George Orwell e Aldous Huxley.
Meu amigo  Thiago Monteiro Bernardo, com invejável lucidez ante os horrores ocorridos no centro do Rio ontem a noite, disse algo que define muito bem o absurdo da atuação policial ontem: "A tropa de choque deve dispersar a multidão e proteger o patrimônio público, não perseguir manifestantes como animais". Perseguir manifestantes, sitiar campus de universidades federais (o IFCS foi citiado SIM, a Escola Nacional de Direito foi bombardeada com bombas de gás SIM) são atos dignos dos momentos mais obscuros da ditadura militar e apoiar tais atos transformam nossos governantes em legítimos herdeiros do legado sangrento e antidemocrático dos regimes de Castello Branco, Costa e Silva, Garrastazu e Giesel.
Enquanto as elites continuarem insistindo em ignorar as demandas populares, enquanto os políticos insistirem e fingir que toda essa revolta não é direcionada contra eles, enquanto as respostas as manifestações continuarem sendo tímidas e hipócritas (como a suspensão do aumento mas com subsídio aos empresários), as manifestações vão continuar e, lamento informar, se tornaram progressivamente mais violentas.

Fábio Campelo é historiador.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Tempo Ocioso

Por Fábio Campelo 

 No jornal de hoje, li uma notícia a respeito do veto do governador Sérgio Cabral Filho ao projeto aprovado em votação na ALERJ de acordo com o qual o governo do estado seria obrigado a lotar seus professores em uma única escola, impedindo assim o desgaste provocado pelo deslocamento dos docentes entre várias U.E. Diferentes, ao longo de sua carga horária diária. No veto, o fuherr das Laranjeiras afirma que tal medida faria com que muitos professores ficassem com “carga horária ociosa” e que isso obrigaria a contratação de 11 mil professores, onerando o estado em 280 milhões de reais. Tanto o veto quanto sua justificativa nos mostram revelam alguns dados importantes sobre a visão do governo do estado a respeito da educação e seus profissionais.
Primeiro: Ao classificar o tempo que o professor passa na escola sem ser em regência de turma como “tempo ocioso”, o governador (e a equipe que o assessora) demonstram ao mesmo tempo uma profunda ignorância a respeito do cotidiano escolar (e dos estudo pedagógicos realizados nas últimas 3 décadas) e uma filiação as doutrinas neoliberais de mercantilização do conhecimento as quais defendem que as escolas deveriam ser meros centros de formação de trabalhadores com baixa qualificação. Uma infinidade de estudos comprovam que os projetos extraclasse e a efetiva participação do professor na elaboração das políticas pedagógicas das escolas (ambas atividades realizadas nos momentos em que o professor está na escola mas fora da regência de turma) são fundamentais para a efetivação tanto de uma educação de alto nível quanto para a implementação de aulas de turno integral, proposta inclusa nos projetos educacionais de virtualmente todas as redes de ensino atualmente.
Esses argumentos não são teóricos, são práticos. Colégios reconhecidos como centros de excelência de ensino tais como o Colégio Naval, o CEFET, o Colégio Militar, Colégio São Bento, etc. Adotam essa filosofia, pagando pela dedicação exclusiva de seus docentes mas ocupando apenas uma pequena parcela de sua carga horária com regência de turma. Os resultados práticos disso são profissionais motivados e comprometidos com a práxis escolar de seus locais de trabalho, ao invés de formar um grupo de professores adoentados, estressados e sobrecarregados pelas condições de trabalho desumanas.
Segundo: A argumentação que a contratação de 11 mil professores geraram um impacto em folha inaceitável para as finanças estaduais demonstram as prioridades que norteiam esse governo. Como, pergunto eu, um investimento de 280 milhões de reais para a contratação de professores pode ser considerado um impacto tão devastador aos cofres públicos enquanto gastos de 1,2 bilhões de reais para a reforma de um estádio (que foi entregue a iniciativa privada por 560 milhões a serem pagos em 30 anos) não são?
Ao longo de seus dois mandatos Il Duce fluminense fechou 98 escolas e investiu menos de 5% do orçamento estadual para a educação enquanto os gastos com viagens do alto escalão do governo triplicaram no mesmo período. Infelizmente, nada posso falar com relação aos gastos do governo estadual com os megaeventos pois, desde o início do ano, o governador proibiu a divulgação desses valores para o público. Outra indicação das prioridades do atual governo é o fato de que, nos últimos 7 anos, os gastos com segurança pública e publicidade praticamente dobraram enquanto os investimentos em educação permaneceram os mesmos ou, em algumas áreas, reduziram.
O fato é que o estado do Rio de Janeiro, segundo estado mais rico da federação e um dos cem maiores produtores de petróleo do mundo, tem dinheiro de sobra para contratar 11, 22 ou 33 mil professores porém a educação nunca foi, não é e jamais será prioridade da corja que administra nossa unidade federativa pois, pela lógica oligárquica, atávica e canalha dessa gente, melhor que investir em ensino e preparo para a população mais carente é gastar com megaobras e alugueis de equipamentos (que oneram o erário sem acrescentar nada ao patrimônio) e com a polícia para reprimir aqueles que porventura se manifestem contra esse estado de desgoverno e absurdo.
Terceiro: Ao achar justo e correto que um professor tenha que se desdobrar entre cinco ou seis escolas diferentes (muitas vezes espalhadas por cidades diferentes), o ogro da zona sul mostra um completo descaso e desrespeito não apenas pelos profissionais mas pelos seres humanos que dedicam suas vidas a ingrata tarefa de construir o futuro na vã esperança de um mundo melhor para as próximas gerações .

Mais uma vez, o governo do estado mostra quais são seus verdeiros interesses e para quem verdadeiramente esse estado é governado e, mais uma vez, quem pagará a alta fatura que tais decisões irão cobrar nos anos vindouros será a população mais carente que, certamente, não poderá colocar os filhos para estudar nas caras escolas que os filhos do governador estudaram, da mesma forma que não pode contar com o atendimento médico privado de nível internacional que Cabral e sua família desfrutam ou assistir aos caríssimos jogos da copa das confederações, disputados nos faraônicos estádios, construídos com o dinheiro de seus impostos.

Fábio Campelo é historiador e professor de história da rede estadual do Rio de Janeiro.  

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Não, você não está em perigo.


(leia até o fim)

Cuidado! a qualquer momento um ônibus desgovernado repleto de menores estupradores e homicidas vai invadir a sua casa, roubando todos os bens que vc zelosamente levou a vida inteira para acumular e atacando sexualmente seus entes queridos. Para melhor se proteger, você pode tentar comprar uma arma de fogo mas, infelizmente, a incompetência do governo fez a inflação disparar encarecendo muito a boa e velha Taurus 9mm e os mal intencionados deputados defensores dos direitos humanos criaram leis que tornam impossível que os cidadãos de bem comprem esse tipo de equipamento defensivo que, agora, só pode ser adquirido pelas milícias e grupos terroristas que vão, com certeza, incendiar o Brasil nos próximos anos.

Se você só conhece o mundo real através da grande mídia, certamente concorda com essa visão.

Uma das grandes (e provavelmente única) sacadas políticas do grupo político do ex-presidente estadunidense George W. Bush, maravilhosamente percebida pelo cineasta Michael Moore, foi que a "doutrina Tarkin" tinha aplicação prática no mundo rea (só para esclarecer, Grand Moff Tarkin é um personagem da série Star Wars que formulou o seguinte pensamento político " o medo mantém todos na linha"). Na prática, o que Bush e os falcões republicanos perceberam foi que uma população assustada torna-se acrítica, conservadora e dócil passando aceitar os mais absurdos disparates desde que sejam propostos em nome da "segurança nacional". Um bônus adicional é que o sensacionalismo em torno da violência ou do terrorismo, promovido pela grande mídia, serve para ocultar outras manobras escusas praticadas pelo governo (o sensacionalismo sobre a Al'Qaeda permitiu ao governo dos EUA desregulamentar todo o sistema econômico na surdina, o que foi uma das razões para a crise mundial iniciada em 2008).
Após mais ou menos uma década de atraso, as lideranças políticas brasileiras começam a despertar para os benefícios da doutrina Tarkin, criando factóide atrás de factóide para apavorar a população e ocultar suas práticas imorais.
A alguns dias, a população do Rio de Janeiro vive em pânico dos coletivos da cidade, as pessoas padecem de um estado permanente de terror com medo de serem mortas ou estupradas ao embarcarem em um deles e das hordas de menores infratores que andam livres e debochando da sociedade. È OBVIO que as péssimas condições do transporte público e a violência urbana são questões muito sérias mas não são os problemas, são apenas sintomas do verdeiro problema, que é cuidadosamente ocultado pela cobertura parcial e comprometida da grande mídia de direita. A verdade inconveniente é que a mão e o pai de todos os males que nos afligem atualmente são a impunidade das elites e o favorecimento de certos setores sociais em detrimento de outros tantos.
Vejamos, por exemplo, o caso dos ônibus na cidade. Sempre que um novo caso envolvendo coletivos chega a conhecimento público, a primeira providência da mídia é culpabilizar o condutor ou a más condições de conservação e manutenção do veículo porém, em momento algum, nem a mídia e nem o poder público sequer cogitam em retirar a concessão da prestação do serviço das empresas, que não fazem a manutenção adequada de seus coletivos além de impor aos seus motoristas jornadas de trabalho desumanas e com baixa remuneração. No caso do menor que estuprou a passageira no coletivo (que fique BEM claro: SIM, EU ACHO QUE ELE TEM QUE SER PUNIDO PELO QUE FEZ E NÃO, NÃO ACHO QUE A PUNIÇÃO QUE ELE VAI RECEBER É CONDIZENTE COM O DELITO COMETIDO), frisa-se muito a condição de menor do infrator e a leniência com que a lei o trata mas casos semelhantes (ou até mais bárbaros) que envolvam os filhos das elites, sequer chegam aos jornais. A punição deve ser rígida, mas apenas para os membros das classes populares pois, o único crime imperdoável nesse país, sempre foi ser pobre.
Porém, a questão mais grave reside no fato de que, enquanto nos apavoramos com os coletivos homicidas e os menores estupradores, nos esquecemos de ver todo o dinheiro público que é gasto em obras INÚTEIS e que, em sua maioria, servem apenas para atender aos interesses de um pequeno grupo de plutocratas ambiciosos e canalhas. O bilhão investido na reforma do Maracanã foi retirado das escolas, onde poderia ser investido para dar um futuro aos jovens que hoje seguem o rumo da criminalidade ou nas agências reguladoras dos serviços públicos, que impediriam que transportes sem condições mínimas de segurança e motoristas infratores continuassem circulando pela cidade. Enquanto nos preocupamos e debatemos sobre a maioridade penal, não ligamos ou percebemos quando um patrimônio histórico que custou mais de um bilhão aos cofres públicos (novamente o Maracanã) é entregue de mãos beijadas a um canalha incompetente e corrupto, que não tem mais nenhuma credibilidade no mercado internacional mas é um bom amigo de nosso governador. Enquanto nos aterroramos com as ameaças de atentados terroristas na visita do Papa Francisco, não ficamos sabendo do resgate bilionário que o BNDS, com o nosso dinheiro, está preparando para acudir o amigo do governador.
A direita reacionária sempre defendeu que "questão social é caso de polícia" mas, enquanto não atacarmos as reais questões de nossa sociedade (desigualdade social, concentração de renda, corrupção, favorecimentos políticos), medidas como a redução da maioridade penal serão apenas paliativos cruéis e absolutamente ineficazes.

Leia mais no meu blog:
http://campelonacontramao.blogspot.com.br/

terça-feira, 5 de março de 2013

O CONTRASSENSO DE WASHINGTON


Por: Fábio Campelo Teixeira.

O maior truque que o diabo fez foi convencer o mundo de que ele não existia, e a maior artimanha do capitalismo foi convencer a humanidade que não existe outra forma de viver possível fora da sociedade do consumo desenfreado e da desigualdade social.
O chamado “Consenso de Washington” foi uma reunião realizada no início dos anos 90 na capital dos EUA, da qual participaram as lideranças dos principais órgãos monetários internacionais, ou seja, o FMI, o Banco Mundial e o Federal Reserve (o “Banco Central” dos EUA). Dessa reunião saiu o “receituário”, ou seja, o conjunto de normas e ajustes que esses órgãos exigiriam que os países em desenvolvimento seguissem na década seguinte para poder continuar contando com crédito no mercado internacional. Qualquer um que tenha vivido na América Latina dos anos 90 sabe de cor as medidas que constavam nesse receituário (corte de gastos públicos, afrouxamento de leis trabalhistas, desregulamentação econômica, redução dos programas de amparo social, etc.) bem como as consequências advindas dele (recessão, desemprego, estagnação econômica, etc.).
Em pleno caos em decorrência da implosão do bloco socialista, os papas neoliberais acenavam para o novo mercado em potencial, surgido com o fim do muro de Berlim, miragens repletas de visões de riqueza, carros de luxo e fast food, ao mesmo tempo que sinalizavam para os países subdesenvolvidos a futilidade de se insistir em um sistema que estava em ruínas pelo mundo afora. Nos dois casos, o discurso preponderante era o mesmo: não há vida fora do capitalismo liberal.
Pelos dez anos seguintes, o mundo viveu em transe, acreditando nas promessas liberais de que, caso se submetessem agora e adotassem o receituário, embora o presente fosse de crise e privações, o futuro seria brilhante e promissor para todos. A medida que os anos 90 avançavam, a verdade começou a se tornar cada vez mais óbvia para quem quisesse enxergá-la: o receituário somente funcionava para os países desenvolvidos pois, através dele, eles obtinham duas coisas indispensáveis para sua continua expansão econômica:
1)a estagnação das economias em desenvolvimentos, evitando assim a entrada de novos jogadores no concorrido mercado internacional,
2)a abertura total e irrestrita dos mercados emergentes para as suas empresas, sustentando assim o ritmo acelerado de crescimento de suas economias.
No início dos anos 2000, as populações dos países onde o receituário do FMI foi adotado começaram a se revoltar com o contínuo estado de recessão em que viviam e, sentindo-se traídos pelas promessas neoliberais, começaram uma guinada a esquerda, rejeitando o receituário e favorecendo o surgimento de movimentos e governos contrassistêmicos e antiliberais. Acuada, a direita liberal reagiu com fanatismo e violência, agredindo essa movimentação das populações latino-americanas, furiosamente acusando governos legitimamente eleitos de ditaduras (em um arroubo de insânia destra a Veja chegou a comparar o governo de Hugo Chaves a ditadura nazista de Adolf Hitller) e vociferando a plenos pulmões que essa aventura rebelde antiliberal iria terminar em caos e tragédia. Novamente citaram a pujança econômica dos países desenvolvidos como exemplo de sucesso e venderam com mais veemência a ideia de que o receituário era a única forma possível de se atingir tal prosperidade e, novamente, houve quem lhes desse ouvidos e adotassem suas preleções com fanatismo quase religioso.
Então, chegamos ao ano de 2008.
O discurso messiânico do Fundo Monetário Internacional (“O receituário é o caminho, a verdade e a luz”) já havia começado a ruir; adotando medidas econômicas diametralmente opostas ao que preconizava o receituário de Washington, a Malásia começou a apresentar índices invejáveis de crescimento, o Brasil começou a se mostrar mais robusto e menos frágil aos humores do mercado financeiro internacional exatamente quando começou a abandonar a ortodoxia econômica liberal e, finalmente, nem a Venezuela e nem a Bolívia afundaram na latrina de caos econômico que os profetas liberais haviam previsto. O golpe de misericórdia, contudo, ocorreu bem no coração do sistema.
Como disse anteriormente, a primeira década dos anos 2000 foi um período extremamente próspero para os países liberais, com suas economias registrando robustas taxas de crescimento. O que os responsáveis por essas taxas não contavam ao mundo é que essa economia crescia a base de anabolizantes financeiros que patrocinavam um cassino econômico, sustentado fragilmente na concessão de crédito barato a população sem condições de quitar seus débitos. Assim sendo, surge uma economia baseada na especulação e na movimentação virtual de capitais ilusórios entre mercados falsamente estáveis. Não entendeu? Não se preocupe, nem mesmo os “gênios” do mercado financeiro que criaram essa roleta russa compreendem completamente o que aconteceu. O fato é que, como toda bolha capitalista essa também explodiu e arrastou todo o mundo desenvolvido junto com ela para o buraco. Quem escapou razoavelmente ileso? Aqueles que se recusaram a seguir o receituário milagroso do FMI.
Entramos na segunda década do século XXI e, novamente, os profetas do caos preconizam o caos para aqueles que tentam estilos de vida alternativos ao liberalismo e, desse vez, os ataques também vem dosados com ameaças veladas a liberdade de expressão e a privação das liberdades individuais do cidadão caso este ouse viver foram da “proteção” capitalista.
E ai? Vamos tentar algo diferente ou vamos mais uma vez ouvir as vozes que já arrastaram o mundo para a beira do caos em, pelo menos, três ocasiões diferentes (1929, 1974 e 2008)?

Fábio Campelo é historiador.

Cada um com seus problemas ...

Por: Fábio Campelo Teixeira.

Qual é o problema da educação hoje em dia?
Em primeiro lugar, eu diria que a educação não tem PROBLEMA ela tem PROBLEMAS, problemas que perpassam por todos os setores que transitam pelo espaço escolar. Os responsáveis pelos problemas da educação são os gestores que insistem em mercantilizar os sistemas educacionais transformando as escolas em indústrias padronizadas regidas por metas irreais; são os alunos para quem a escola possui cada vez menos significado para além de seu aspecto social básico; são os responsáveis que não exigem dos gestores uma educação de qualidade, se contentando em ter um local onde possam depositar seus filhos cinco horas por dia; são os professores que tem cada vez menos interesse e disposição para cumprir suas obrigações enquanto educadores.
Sob qualquer aspecto que se analise, o sistema educacional está absolutamente falido. Esses são os fatos mas a pergunta que se impõe a eles é como chegamos a isso?
Eu proponho três explicações:
1) As sociedades ocidentais tem se tornado cada vez mais narcisistas. Atualmente, as pessoas tornam-se cada vez mais incapazes de enxergar qualquer coisa que não seja um reflexo distorcido delas próprias, tornando-se desinteressadas de qualquer questão que transcenda o próprio ser. Para que discutir o crescente problema dos usuários de drogas (os cracudos) se eu não sou um deles? para que apreciar arte se ela não é uma fotografia minha? Que me interessa o que político A, B ou C faz? eu voto nulo! Ich, vor allem (eu, acima de todos) é lema das novas gerações e o I-Phone apontado contra o espelho o seu brasão e sendo a escola o local onde se vai para acessar o conhecimento acumulado e sistematizado da humanidade através dos anos, ela se torna cada vez menos atraente.
2) No ocidente contemporâneo vivemos sob a égide do liberalismo publicitário que prega, acima de qualquer outra coisa, dois dogmas fundamentais: "Tenha, não seja" e "A autogratificação tem que ser imediata". Cada vez mais a sociedade impõe as novas gerações que seu valor seja medido por suas posses transformando a compra do tablet ou do celular da moda em um dilema muito mais presente do que obter justiça social em ou, em outras palavras, os jovens vão progressivamente deixando de ser revolucionários em potencial para se transformarem em consumidores vorazes. A satisfação somente é obtida através do consumo e ela tem que ser efêmera pois é preciso consumir mais, seja lá o que for (serviços, mercadorias, pessoas). O trabalho duro e a satisfação que somente é obtida em decorrência desse tornam-se, cada vez mais, obsoletos e, uma vez que a escola se  baseia exatamente nesse princípio de esforço e gratificação posterior, ela se torna um estorvo massante para os jovens que se tornam francamente hostis a ela.
3) O elitismo proselitista de muitos educadores os levam a uma cegueira que os faz enxergar apenas e tão somente uma verdade, uma forma de ensinar, uma forma de agir. Quando constatam que seus métodos são ultrapassados e que sua visão é excludente, esses "educadores" passam a assumir discursos que variam do paternalismo mais asqueroso ("eu não posso ensinar minha matéria! eles não sabem nada!") a agressividade xenofóbica pura e simples ("[pobre/negro/nordestino/etc] é tudo burro! não tenho como ensinar!"). Para esses dificuldade se transforma em Empecilio e empecilio se transforma em impossibilidade e, assim, temos uma legião de educadores que seguem, ano após ano, sem cumprir com seus deveres, jogando a culpa de sua incompetência na má fé alheia.
4) A constante mercantilização dos sistemas educacionais, promovida por seus gestores. É comum atualmente a ideia que a educação deve ser gerida como um negócio porém os estudos na área já provaram por A + B  sendo: a)que  o aprendizado é um processo individual e subjetivo e b) que é preciso RECURSOS para se obter uma educação de qualidade. Essa duas propostas são diametralmente opostos as ideias "meritocráticas" que pretendem estabelecer metas de produtividade e redução de custos, transformando o processo todo em mera reprodução das condições postas socialmente.
5) Nunca antes, em toda a  história da humanidade se glorificou tanto a violência como nos dias atuais. A violência é o ar que respiramos nas sociedades contemporâneas, a única diferença foi que substituímos a violência física de outras eras por outras variedades de violência mais sutis como o desrespeito, o preconceito, o sexismo, o proselitismo religioso e a violência moral. Enquanto microcosmo social, a escola reproduz essas práticas de violência transformando-se em um ambiente hostil para todos que a frequentam, levando os alunos a abandoná-la e degradá-la enquanto instituição e os professores aos consultórios médicos.

Esse texto foi apenas uma reflexão/desabafo de alguém que vivencia a aproximadamente 15 anos o universo escolar como educador. Não pretendo ser o profeta do caos nem a salvação do mundo corrupto, quero apenas ser aquele que ajudou a iniciar um diálogo sério e imprescindível sobre a educação em nossa sociedade.

Fábio Campelo Teixeira é  professor e historiador.
por Ricardo C. Teixeira

Esqueça por um instante, taça Guanabara, caso Bruno e etc. Atenham-se aos próximos dois dias, mais precisamente, à reunião do COPOM. Há rumores de que, em médio prazo, haverá a necessidade de se aumentar a taxa básica de juros após longo período de quedas contínuas para segurar o avanço inflacionário. Isto é ruim para as perspectivas de investimento externo, mas, olhando bem detalhadamente, é bem pior do que parece...
Vamos lá...
Dos principais parâmetros para avaliar a saúde macroeconômica de uma nação, a Balança de Pagamentos divide-se em duas “contas” fundamentais, a balança comercial, que é representada pela aritmética resultante das importações e exportações e o saldo em conta corrente, que é a aritmética resultante do fluxo de divisas que entram e saem deste mesmo País.
Com os “poderosos” 0,9% de crescimento do PIB, nos é somente passada uma informação absoluta e vaga de desempenho, mas, na verdade, a análise é muito mais profunda.
O que nosso desempenho industrial, somado ao peso de nossa máquina estatal e ao terrível “custo Brasil” que está diretamente relacionado à nossa infraestrutura ainda precária normalmente nos levaria, é a um cenário pior, ou seja, de “decrescimento” econômico. Então a pergunta que não quer calar é a seguinte: Ricardo, por que então conseguimos, ainda que palidamente, registrar crescimento da economia no ano que passou? A resposta? Consumo meus caros...
O aumento da largura da “banda de classe média” nos permitiu mais renda e acesso fácil ao crédito e, consequentemente, o estouro da onda de consumo. Isto é ruim? Não! É ótimo termos o aumento da capacidade de compra da população. O problema meus caros, é que o aumento do consumo precisa se sustentar, ou seja, a oferta encontrar a demanda. Como isto poderá ocorrer em um País onde a atividade industrial naufraga?
É aí que retornamos ao primeiro parágrafo. Para conseguir aumentar a curva de oferta e absorver o consumo crescente, importamos mais meus caros...
Importando mais, nos aproximamos da condição de déficit da balança comercial...
Com déficit na balança comercial, influímos negativamente no saldo da Balança de Pagamentos...
Para compensar a BP, aumentamos nosso lastro em moeda estrangeira para valorizar o Real...
Valorizando o Real, dificultamos novos entrantes em nossa economia...
Com menos empresas entrando, nossa indústria não cresce...
Um doce para quem adivinhar o impacto no aumento da Selic para a mesma e velha combalida indústria Brasileira?


Ricardo Campelo Teixeira é engenheiro de produção.

sexta-feira, 1 de março de 2013

O Banheiro do Papa


A renúncia do Papa nos mostra que em termos de corrupção e falência da classe política, nós ainda temos muito o que aprender com nossos mestres italianos. Ao longo dos anos, alguns mitos foram criados e se somaram a aura de mistério que envolve o Vaticano em uma tentativa de lhe conferir credibilidade e isolá-lo do ambiente político italiano, historicamente marcado por vícios e defeitos que o tornam ineficiente e caricato. Uma dessas idéias é a da independência do Vaticano.
A Cidade do Vaticano é frequentemente referenciada como sendo o menor Estado do mundo, construindo a ideia que, embora seja pouco mais que um sub-bairro incrustado no meio da capital italiana, o Vaticano estaria isolado dos males da política nacional exatamente por ser outra nação. Na prática, todo o escândalo que orbita a renúncia de Bento XVI mostra que as mesmas forças que agem nas sombras do Paazzo Chigi também obscurecem a praça São Pedro.
A história nos mostra que lutas políticas, tráfico de influência e relações escusas com o crime organizado não são novidade no Vaticano. Rodrigo Bórgia (Papa Alexandre IV) gastou fortunas para comprar os votos do colégio de cardeais e garantir sua eleição, além de se utilizar de capangas e soldados mercenários para matar ou intimidar seus opositores; João XII dedicava mais tempo ao estupro de peregrinas do que a condução espiritual da santa sé. Lutero se horrorizou tanto com o que presenciou na corte de Leão X que preferiu romper com a igreja e formar sua própria religião e Pio XI ficou cego a brutalidade do Nazi Fascismo para conseguir a independência política de suas posses pessoais, criando o Estado do Vaticano. Embora esses sejam exemplos extremos, o fato é que o poder secular sempre seduziu e influenciou aqueles que, em tese, deveriam dedicar suas vidas a condução espiritual de uma parte significativa da população mundial, fazendo da cúpula da igreja um ambiente ideal para a proliferação de carreiristas ambiciosos que, não se enganem os fiéis, agiam com liberdade e o conhecimento tanto do próprio Bento XVI quanto de seu antecessor João Paulo II. A renuncia de Ratzinger não é um ato de contrição ou um grito desesperado pela decência e a moralização da instituição religiosa, é simplesmente a remoção de um elemento que não era mais útil as engrenagens obscuras do poder católico. Com sua renúncia, no entanto, Bento XVI nos mostra que é um profundo conhecedor e estudioso da história brasileira.
Em 1954, Getúlio Vargas, um dos mais populares presidentes brasileiros, não vivia seu melhor momento na política. Com denúncias de corrupção e favorecimento dentro de seu governo surgindo diariamente na grande mídia (liderada por Carlos Lacerda), Getúlio optou por "sair da vida para entrar para a história", dando um tiro a queima-roupa no peito. Com o suicídio, a população que saia as ruas para acusá-lo e pedir sua renúncia, agora lotava os funerais para homenageá-lo e honrá-lo, esquecendo todas as suas falhas políticas e pessoais.
Ao renunciar, Bento XVI conseguiu efeito político semelhante pois sua desastrosa condução da igreja nos últimos oito anos tem sido revista e revisada a luz do fato novo que ele criou com sua renúncia e, assim, o Papa antipático, conservador, elitista e com um passado relacionado ao nazismo se tornou em uma espécie de mártir, um herói que admite sua própria impotência para lidar com forças sombrias que não conhecia.
O papa emérito conduziu uma igreja que se isolou das demais religiões, sempre recusando o diálogo, defendeu posições reacionárias e elitistas e manteve-se omisso  diante da enxurrada de denúncias de abusos sexuais/econômicos/políticos praticados pelos agentes católicos mundo afora. A igreja católica encolheu na última década e se distanciou tanto de seu rebanho que perdeu quase toda a sua legitimidade para falar em nome dos quase 1,28 bilhões de católicos que existem no mundo atualmente e tudo isso foi feito, se não com o beneplácito dos últimos dois vigários de Roma, com seu conhecimento e leniência. Bento XVI não é mártir ou herói, ele apenas não é mais útil.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O Preço Social

Por: Fábio Campelo.

Em 2007, a cidade do Rio de Janeiro organizou os jogos pan-americanos mais caros da história. Embora as sucessivas auditorias que foram realizadas desde então, ainda não tenham sido capazes de determinar com certeza quanto do dinheiro público foi gasto na sangria, seguramente já é possível afirmar que o pan 2007 foi mais dispendioso do que os jogos olímpicos de Londres em 2012, por exemplo.
Para justificar a farra bilionária, o COB e as autoridades estaduais e municipais alegaram insistentemente que as obras eram caras pois estavam sendo construídas já atendendo as exigências do COI, preparando a cidade para receber os jogos olímpicos  futuramente, dotando-a de uma infra-estrutura esportiva completa, ou seja, gastou-se naquela época para economizar no futuro.

Recentemente, acompanhando as notícias sobre as olimpíadas de 2016 pela grande mídia, vi duas notícias que atraíram minha atenção: O velódromo construído para o pan será demolido e, em seu lugar, erguido um novo e o Parque Aquático Maria Lenk será usado, apenas, na competição de polo aquático, sendo que serão construídas ou adaptadas outras instalações para receber as demais modalidades de esportes aquáticos. Para justificar a mudança, o monarca do COB, Carlos Arthur Nuzman disse que as "fotos dos saltos ornamentais ficaram maravilhosas" no novo local.

Ora, somando o que se gastou para erguer o velódromo e o Maria Lenk chegamos a expressiva soma de cerca de 150 milhões de reais, verba que seria o suficiente para construir, equipar e manter por um ano 10 hospitais públicos com mais 60 leitos cada, acabando com desumano espetáculo das filas quilométricas nos postos de saúde ou com a vergonhosa espera de anos por atendimento em centros de referência.
150 milhões de reais é dinheiro suficiente para construir e mobiliar mais ou menos 25 escolas com dez salas de aula climatizadas, resolvendo assim os problemas de superlotação existente no estado onde, frequentemente, 50 crianças são espremidas em salas de aula com capacidade para metade disso.
150 milhões de Reais é dinheiro suficiente para iniciar e consolidar uma política ambulatorial e de amparo para recolher e tratar adequadamente dependentes químicos (os cracudos), resolvendo um grave problema social e médico, ao invés de se utilizar medidas truculentas e fascistas que além de não resolver, somente agravarão o problema a médio prazo.

150 milhões de reais trazem dignidade a muita gente mas, ao invés disso, eles foram simplesmente jogados no lixo. Por que? por causa de nossa infalível capacidade de escolher sempre o que existe de pior, de mais podre, de mais execrável na raça humana para conduzir a coisa pública, ou seja, os Nuzman, os Ricardos Teixeiras, os  Calheiros, os Sarneys, os Eduardos Paes e os Sérgios Cabrais da vida, Ratos imundos, ladrões, corruptos e incopetentes da pior espécie.

Fábio Campelo é historiador.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Agente não quer só comida


Os jornais de hoje noticiaram que o governo do estado e a prefeitura vão fechar 49 espaços culturais, em reação provocada pelo incêndio da boate Kiss. É obvio que, qualquer estabelecimento público tem que oferecer segurança a seus frequentadores e que aqueles que se encontram abaixo dos padrões exigidos devem sofrer as sanções previstas em lei, porém há alguns aspectos que devemos levar em conta ao analisar essa medida:
Desde 1998 tem sido prática constante dos governos carioca e fluminense a prática de acabar com os espaços públicos, principalmente aqueles destinados a atender as demandas das populações mais carentes. Ao longo dos últimos 15 anos foram fechadas escolas, hospitais, postos de saúde e parques e, aproveitando-se do ocorrido em Santa Maria, os "gestores" da coisa pública do Rio de Janeiro voltam sua sanha reducionista para os espaços culturais sendo que desses, não por acaso, os mais vitimados são exatamente as lonas culturais.
Quem conhece sabe que as lonas são importantes focos fomentadores de cultura nos subúrbios e comunidades carentes, promovendo shows de qualidade e uma série de atividades e cursos voltados para as populações de baixa renda da cidade. A interdição das mesmas acaba com os únicos espaços de lazer e cultura localizados fora das regiões centrais da cidade dificultando ainda mais o (pouco) acesso que as classes populares tem as manifestações artísticas e culturais. O governo afirma que a interdição será por apenas 20 dias, mas a história nos mostra que, findo esse prazo, os espaços localizados nas áreas nobres da cidade serão reabertos e os demais serão relegados ao mais completo abandono afinal a lógica meritocrática e venal dos nossos alcaides julgam desperdício de dinheiro investir em cultura para as camadas populares, visto que estas devem se manter em estado de brutalização e subserviência.
Outro aspecto que devemos ressaltar dessa medida é a forma de pensar irresponsável de nossos governantes. Até a queda dos prédios na Avenida Rio Branco (alguém ainda lembra disso?), não havia nenhum interesse em fiscalizar as obras e alterações realizadas nas construções da cidade; até a explosão do restaurante, ninguém se importava se haviam estoques clandestinos de gás de cozinha nesses lugares e, somente após o incêndio, vão se investigar os estabelecimentos com alvarás caçados desde 2010. Por que sempre é preciso que alguém morra para que as autoridades se movam? até quando o direito ao lucro dos poderosos vai se sobrepor ao direito a vida de todos?
Finalmente, encerro com o seguinte questionamento: Se ao invés de um boate de classe média alta, cheia de universitários, no Rio Grande do Sul o incêndio tivesse ocorrido em um Baile Funk no complexo do alemão, frequentado pelas camadas populares, a mídia faria a mesma cobertura do fato? a tragédia teria comovido o Brasil da mesma forma?

Fabio Campelo é historiador