Em 19/06, postei um pequeno comentário a respeito do repúdio das manifestações atuais aos partidos políticos. Reproduzo esse comentário para melhor desenvolver minha argumentação:
"Por que as manifestações atuais tem um caráter tão intransigentemente apartidário? Porque a muitos anos os partidos de esquerda não representam mais os ideais e a vontade popular que tão ruidosamente dizem defender.
PSTU, PCO, PCdoB a anos deixaram as causas e agendas sociais de lado e se concentram em uma espécie de jogo de poder pessoal no qual disputam com unhas e dentes o controle sobre sindicatos e dce's universitários os quais aparelham e utilizam como base de apoio de seus projetos pessoais de poder. Assim como as legendas de direita que dizem combater, esses partidos colocam em primeiro lugar suas próprias agendas e desconsideram por completo os interesses daqueles excluídos que dizem defender.
Repetir os mesmos e manjados refrões de 50 anos atrás não vai garantir a esses oportunistas a liderança dos presentes movimentos alias, nem mesmo um lugar neles" - Rio de Janeiro, 19/06/2013.
Continuo acreditando que a culpa do atual sentimento antipartidário recai sobre os próprios partidos porém, assim como a muitos, me causa uma certa preocupação os ataques violentos que os militantes desses partidos tem sido vítimas ao tentarem participar das manifestações que proliferam pelo país.
A ausência de partidos políticos e representações de classe abrem caminho para o surgimento de regimes autocráticos e ditaduras que, via de regra, podem até atender aos anseios de alguns segmentos da população mas o fazem reprimindo violentamente todos os demais segmentos ou grupos que, porventura, venham a manifestar visões de mundo diferentes. Os partidos impedem a excessiva concentração de poderes nas mãos de um só grupo, permitindo a existência de uma pluralidade de discursos conflitantes que, de outra forma, é impossível.
Nesse sentido, acredito que impingir aos movimentos atuais esse caráter violentamente apartidário é um grave erro do qual podemos nos arrepender amargamente nos anos que virão. O grito não deve, não pode, ser contra a existência de partidos e organizações de classe mas sim pela REFUNDAÇÃO desses instrumentos democráticos (oportunidade essa que o próprio PT perdeu ao defender os réus condenados pelo mensalão), devemos nos manifestar pelo fim dos antigos e obtusos coronéis que ainda imperam de forma absoluta em legendas que variam do fisiocratismo ao personalismo, voltadas apenas para os próprios interesses mesquinhos, devemos nos manifestar contra o "sou contra por ser contra", contra o aparelhamento de associações de base por partidos que, de outra forma, não conseguem representatividade alguma.
Vejo também um certo exagero nos discursos que vicejam nas redes nos últimos dias que denunciam a existência de algum tipo de conspiração nazi-direitista no sentido de destruir os partidos de esquerda. Ora, são exatamente os políticos de direita os principias alvos de muitas manifestações! Há por trás desse tipo de teoria da conspiração um certo pânico das lideranças de esquerda pelo fato de, pela primeira vez na história recente, haver uma manifestação em massa da população sem que eles estejam a frente. Nesse sentido concordo com meu amigo Thiago Monteiro Bernardo quando este diz que não há motivo para o medo e que, ao invés de hostilizar o movimento, é o momento de ser humilde e ouvi o recado que vem das ruas, aprender com ele e mostrar para os revoltados a importância da existência de partidos para a democracia.
Vamos as ruas, TODOS NÓS, sem sectarismos nem radicalismos idiotas que apenas atendem aos interesses daqueles contra quem o povo finalmente se insurgiu.
Fábio Campelo é historiador.