sexta-feira, 10 de maio de 2013

Não, você não está em perigo.


(leia até o fim)

Cuidado! a qualquer momento um ônibus desgovernado repleto de menores estupradores e homicidas vai invadir a sua casa, roubando todos os bens que vc zelosamente levou a vida inteira para acumular e atacando sexualmente seus entes queridos. Para melhor se proteger, você pode tentar comprar uma arma de fogo mas, infelizmente, a incompetência do governo fez a inflação disparar encarecendo muito a boa e velha Taurus 9mm e os mal intencionados deputados defensores dos direitos humanos criaram leis que tornam impossível que os cidadãos de bem comprem esse tipo de equipamento defensivo que, agora, só pode ser adquirido pelas milícias e grupos terroristas que vão, com certeza, incendiar o Brasil nos próximos anos.

Se você só conhece o mundo real através da grande mídia, certamente concorda com essa visão.

Uma das grandes (e provavelmente única) sacadas políticas do grupo político do ex-presidente estadunidense George W. Bush, maravilhosamente percebida pelo cineasta Michael Moore, foi que a "doutrina Tarkin" tinha aplicação prática no mundo rea (só para esclarecer, Grand Moff Tarkin é um personagem da série Star Wars que formulou o seguinte pensamento político " o medo mantém todos na linha"). Na prática, o que Bush e os falcões republicanos perceberam foi que uma população assustada torna-se acrítica, conservadora e dócil passando aceitar os mais absurdos disparates desde que sejam propostos em nome da "segurança nacional". Um bônus adicional é que o sensacionalismo em torno da violência ou do terrorismo, promovido pela grande mídia, serve para ocultar outras manobras escusas praticadas pelo governo (o sensacionalismo sobre a Al'Qaeda permitiu ao governo dos EUA desregulamentar todo o sistema econômico na surdina, o que foi uma das razões para a crise mundial iniciada em 2008).
Após mais ou menos uma década de atraso, as lideranças políticas brasileiras começam a despertar para os benefícios da doutrina Tarkin, criando factóide atrás de factóide para apavorar a população e ocultar suas práticas imorais.
A alguns dias, a população do Rio de Janeiro vive em pânico dos coletivos da cidade, as pessoas padecem de um estado permanente de terror com medo de serem mortas ou estupradas ao embarcarem em um deles e das hordas de menores infratores que andam livres e debochando da sociedade. È OBVIO que as péssimas condições do transporte público e a violência urbana são questões muito sérias mas não são os problemas, são apenas sintomas do verdeiro problema, que é cuidadosamente ocultado pela cobertura parcial e comprometida da grande mídia de direita. A verdade inconveniente é que a mão e o pai de todos os males que nos afligem atualmente são a impunidade das elites e o favorecimento de certos setores sociais em detrimento de outros tantos.
Vejamos, por exemplo, o caso dos ônibus na cidade. Sempre que um novo caso envolvendo coletivos chega a conhecimento público, a primeira providência da mídia é culpabilizar o condutor ou a más condições de conservação e manutenção do veículo porém, em momento algum, nem a mídia e nem o poder público sequer cogitam em retirar a concessão da prestação do serviço das empresas, que não fazem a manutenção adequada de seus coletivos além de impor aos seus motoristas jornadas de trabalho desumanas e com baixa remuneração. No caso do menor que estuprou a passageira no coletivo (que fique BEM claro: SIM, EU ACHO QUE ELE TEM QUE SER PUNIDO PELO QUE FEZ E NÃO, NÃO ACHO QUE A PUNIÇÃO QUE ELE VAI RECEBER É CONDIZENTE COM O DELITO COMETIDO), frisa-se muito a condição de menor do infrator e a leniência com que a lei o trata mas casos semelhantes (ou até mais bárbaros) que envolvam os filhos das elites, sequer chegam aos jornais. A punição deve ser rígida, mas apenas para os membros das classes populares pois, o único crime imperdoável nesse país, sempre foi ser pobre.
Porém, a questão mais grave reside no fato de que, enquanto nos apavoramos com os coletivos homicidas e os menores estupradores, nos esquecemos de ver todo o dinheiro público que é gasto em obras INÚTEIS e que, em sua maioria, servem apenas para atender aos interesses de um pequeno grupo de plutocratas ambiciosos e canalhas. O bilhão investido na reforma do Maracanã foi retirado das escolas, onde poderia ser investido para dar um futuro aos jovens que hoje seguem o rumo da criminalidade ou nas agências reguladoras dos serviços públicos, que impediriam que transportes sem condições mínimas de segurança e motoristas infratores continuassem circulando pela cidade. Enquanto nos preocupamos e debatemos sobre a maioridade penal, não ligamos ou percebemos quando um patrimônio histórico que custou mais de um bilhão aos cofres públicos (novamente o Maracanã) é entregue de mãos beijadas a um canalha incompetente e corrupto, que não tem mais nenhuma credibilidade no mercado internacional mas é um bom amigo de nosso governador. Enquanto nos aterroramos com as ameaças de atentados terroristas na visita do Papa Francisco, não ficamos sabendo do resgate bilionário que o BNDS, com o nosso dinheiro, está preparando para acudir o amigo do governador.
A direita reacionária sempre defendeu que "questão social é caso de polícia" mas, enquanto não atacarmos as reais questões de nossa sociedade (desigualdade social, concentração de renda, corrupção, favorecimentos políticos), medidas como a redução da maioridade penal serão apenas paliativos cruéis e absolutamente ineficazes.

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